Memória afetiva na pandemia: como enxergar o lado positivo desse novo momento com o seu filho

     Apesar de complicado, o isolamento social veio para unir (ainda mais!) a família e fazer com que os momentos juntos sejam especiais. Saiba como driblar as dificuldades e entender o que as crianças estão tentando te dizer.


Ao longo desses mais de três meses de isolamento social, as crianças tendem a criar uma memória afetiva sobre o momento atual. Com isso, perguntas como “por que não posso brincar no parquinho?”, ou ainda “quando vou voltar para a escola?” podem tornar-se cada vez mais frequentes. Mas calma, é possível driblar as dificuldades e ainda enxergar o lado bom do distanciamento sem desespero.

Para lidar com a situação, é importante mostrar respeito, ter bom senso e ser transparente ao ouvir sobre os sentimentos do seu filho. Grace Falcão, psicóloga, terapeuta de família e educadora parental, explica que é necessário entender o que as crianças querem dizer, mesmo que sejam com atitudes em vez de palavras: “Infelizmente muitas famílias não dão importância, e até desmerecem, as emoções dos filhos. Mas o que esses pais precisam entender é que as crianças têm sentimentos assim como os adultos. Elas são como esponjas, atentas e inquietas com tudo ao seu redor, além disso, elas são muito sensíveis. Por isso é fundamental prestar atenção nas emoções dos filhos, principalmente das crianças pequenas, que ainda não possuem maturidade suficiente para se expressar”.

De acordo com o Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), a pandemia trouxe também algumas dificuldades funcionais e comportamentais nas crianças. No estudo preliminar, realizado em Shaanxi, na China, 320 crianças e adolescentes de 3 a 18 anos foram ouvidos. Destas, 36% apresentaram uma maior dependência dos pais, 32% teve desatenção, 29% se mostrou mais preocupada, 21% problemas de sono, 18% a falta de apetite, 14% pesadelos e 12% o desconforto e agitação ao longo do dia.

No Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro, Érika Fernandes, mãe de Lara, de cinco anos, e Maitê, de um, também precisou lidar com a dependência da filha mais velha ao voltar para o trabalho presencial: “Com a flexibilização da quarentena no Rio, estou retornando para o trabalho aos poucos. Na primeira semana que precisei trabalhar fora, a minha filha mais velha não gostou da ideia. Chorou e pediu para eu ficar em casa. Fiquei com o coração apertado, né? Eu e meu marido sempre trabalhamos fora e tivemos a ajuda de uma cuidadora em casa, mas foram três meses de quarentena, que eu ainda pude emendar com a licença maternidade da minha filha mais nova. Acredito que o retorno ao trabalho foi uma ruptura muito grande para a Lara, que já estava mais do que acostumada em ficarmos grudadinhas todos os dias”, desabafou.

Mas afinal, o que é a memória afetiva?

São as lembranças que irão surgir por causa de elementos sensoriais e emocionais. Elas podem aparecer a partir de sabores, cores, cheiros, ou ainda sons de coisas que já aconteceram e se tornaram marcantes. É também a memória sinestésica, capaz de lembrar do período da infância, ou da adolescência, trazendo um sentimento do passado para o tempo presente.

Como posso ajudar na criação da memória afetiva?

Apesar de parecer complicado, trazer essas lembranças para o seu filho pode ser mais simples do que parece! Para ajudá-lo, você pode passar mais tempo com ele – desde que seja de qualidade, participar da vida escolar, ler um livro na hora de dormir, cantar junto e até mesmo compartilhar refeições em família. Basta usar a criatividade para tornar um momento o mais especial possível!


Meu comportamento pode influenciar nos sentimentos do meu filho?

Sim, mas nada de pânico! Grace Falcão explica que é importante olharmos para nós mesmos e analisar as emoções e reações que passamos para as crianças, mesmo sem perceber. “Precisamos ficar atentos com a percepção que os pequenos têm de nós. Se os pais passam tranquilidade e conseguem conter as suas emoções, os pequenos também vão se autorregular. O comportamento dos pais vai influenciar muito na forma como as crianças reagem à pandemia e ao isolamento social e como superam esses traumas”, comenta a terapeuta.


Foque no copo meio cheio!
Apesar de todas as dificuldades, o isolamento social também trouxe benefícios para as famílias como, por exemplo, a chance de se conectar verdadeiramente com os filhos, além de ter a oportunidade de conhecê-los ainda melhor. “Existe também o outro lado da moeda, onde houve uma reaproximação maior da família. Pais que antes não tinham tempo para conversar, interagir e brincar com os seus pequenos, puderem conhecer melhor os seus filhos nessa pandemia e estreitar esses laços. Houve uma reconexão da família. Isso será fundamental para que eles retomem a vida normal”, comenta Grace Falcão.

Devo mudar a rotina com os filhos durante o isolamento?
Se adaptar ao momento atual pode ser uma opção de diminuir o estresse na família. A rotina antiga nem sempre será a melhor alternativa para seguir em frente, já que tudo ao redor está diferente, inclusive na vida das crianças. Por se tratar de uma situação nova para os pais e filhos, que tal sentar junto e combinar as atividades, prioridades e lugares que serão ocupados dentro de casa? Mas nada de rigidez, tudo precisa ser o mais natural possível! Não esqueça de considerar um tempo em que todos possam se reunir, seja para cozinhar, ler um bom livro juntos, ou ainda assistir a um filme. Afinal, resgatar os momentos em família (mesmo que seja do seu jeito), irá trazer experiências muito ricas durante um período que é essencial criar laços e se reconectar com o presente.

Fonte: Jardim, Cinthia. Revista Pais&Filhos.Memória afetiva na pandemia: como enxergar o lado positivo desse novo momento com o seu filho. Disponível em: https://paisefilhos.uol.com.br/familia/memoria-afetiva-na-pandemia-como-enxergar-o-lado-positivo-desse-novo-momento-com-o-seu-filho/. Acesso em 06 de Out. de 2020