O comportamento do seu filho regrediu? Saiba como lidar com a birra e a irritação das crianças na quarentena
Estresse, medo, birra, insônia, impaciência…. Se você sente
que seu filho está com as emoções à flor da pele nesse período, descubra
algumas dicas de psicólogas para melhorar o clima em casa.
Ele está distante dos amigos, da escola, da rotina de
sempre. As crianças, dependendo da idade, podem não ter ideia da dimensão da
pandemia (até porque os adultos mesmo têm dificuldade para entender), mas
sentem esse clima em casa e reagem de diversas formas.
Algumas ações da criança podem manifestar como ela está se
sentindo diante dessa nova dinâmica familiar. “Chamamos de regressão os
comportamentos de uma fase anterior que voltam a ser feitos pelas crianças. A
regressão não é um fator completamente novo e pode acontecer em várias
situações da vida da criança, como quando ganha um irmão, com o divórcio dos
pais, com a escolarização ou outros eventos que gerem insegurança ou sentimento
de abandono. Por isso, a causa do problema não é o fator da quarentena em si,
mas como ela se sente nessa situação”, explica Renata Ishida, psicóloga e
coordenadora pedagógica de conteúdo do LIV – Laboratório Inteligência de Vida,
filha de Maria Aparecida e Akira.
Renata também conta que a criança é como se fosse um
para-raio, que absorve a atmosfera do ambiente: “Ela é muito sensível a como as
outras pessoas se sentem”. Mas, sem um nível de abstração necessário para
comunicar as emoções, podem acabar demonstrando através dos comportamentos,
como xixi na cama, agressividade e choro.
“As crianças ainda não têm um repertório verbal para falar
sobre seus sentimentos. Então, quando não sabemos identificar e falar sobre o
que sentimos – um vocabulário que abrange palavras abstratas – vivenciamos isso
no corpo e nas atitudes. Ela vai fazer xixi na cama, ficar mais agressiva,
chorar mais ou, em alguns casos, até apresentar sintomas, como febre e dor de
barriga”, acrescenta Renata.
Por isso, é fundamental que os pais ensinem os filhos a
lidar com essas emoções. “Aos pais, é necessário validar reconhecendo o
sentimento da criança a fim de construir com elas uma maneira de compreender e
ajudá-las tolerar a frustração e por conseguinte apoiá-las a desenvolver
recursos para lidar com a raiva, com o tédio, com a impaciência e
insatisfação”, explica Tatiane.
Ser o exemplo é a melhor forma de
ensinar
Isso não significa reprimir esse sentimento, muito pelo
contrário, mas permitir senti-lo, sem que prejudique o seu dia ou até as
pessoas em sua volta. Nesse contexto, vale reforçar que os adultos precisam dar
o exemplo. “É necessário que os pais reconheçam a sua própria irritação,
cansaço, preocupações, e abram um espaço de diálogo com seus filhos com uma linguagem adequada conforme
idade de cada um. Quando uma mãe ou pai se apresenta para os filhos como
uma pessoa que não sente e legitima estas emoções (o que não existe pois é
natural a nossa existência), os filhos podem se sentir mais inseguros com
relação aos próprios sentimentos”, justifica Tatiane.
Nesse ciclo, as crianças podem se sentir incapazes de
corresponder ao alto padrão imposto (que, vamos combinar, não condiz com a
realidade) e gerar outros problemas futuros. “Certamente, quanto maior a
habilidade socioemocional dos pais em lidar com os próprios sentimentos, melhor
a adaptação e ajustamento da criança”, garante. Momentos como esse têm nos
exigido lidar com as frustrações e todas essas sensações. Encare como uma
oportunidade de aprendizado em família, trazendo acolhimento. “É importante
mostrar para a criança que também estamos sentindo isso – que tudo bem chorar e
ficar mal”, justifica Renata.
Novos aprendizados
Uma dica de acordo com a especialista é estabelecer uma
rotina em casa, uma vez que as crianças pequenas ficam mais seguras quando têm
um certo padrão de repetição. Novamente, reforçamos a importância de conversar
com seu filho sobre o que está acontecendo e quais são as novas regras.
“Estabelecer novos acordos dá um parâmetro para a família de quando falar ‘sim’
ou ‘não’ para a criança, quando liberar ou não determinados comportamentos”,
diz Renata.
“Quando uma mãe ou um pai permite a si mesmo errar mesmo
diante da impaciência, eles estão permitindo os seus filhos serem mais humanos.
Consequentemente, quando uma mãe reconhece uma manifestação da raiva, ela está
ensinando eles a como reparar uma situação que ocorreu, como pedir desculpas,
se reconciliar, se retratar, ensinar valores, e discutirem juntas como cada um
pode se ajudar mutuamente para que tenham maior autocontrole diante destas
situações, praticando também a empatia”, conclui Tatiane.
Fonte: SERRA, Yulia. Revista Pais&Filhos. O comportamento do seu filho regrediu?Saiba como lidar com a birra e a irritação das crianças na quarentena. Disponível em: https://paisefilhos.uol.com.br/crianca/o-comportamento-do-seu-filho-regrediu-saiba-como-lidar-com-a-birra-e-a-irritacao-das-criancas-na-quarentena/. Acesso em 17 de Jun. de 2020